Dia após dia de sua vida ele passou no bar. Agora reclama surpreso a dor que sente no rim. O que pra ela que ouvira isso não fora surpresa nenhuma. Dores no fígado, dores no rim, pele amarelada grudada na espuma sem proteção do colchão. Deitado sujo e suado, num quarto sem forro, escuro e abafado, com mais de uma nuvem de mosquitos. Teve de conter o nó na garganta quando o viu ali, magro e comprido, coberto pra se livrar dos mosquitos, sem nunca poder esquecer os trinta e cinco graus que o faziam suar cachaça sem parar. A última vez que começara as dores, depois de uma crise que se tornara insuportável, levaram o homem para o hospital. Ele fugiu. Arrancou dos braços os soros, carimbou e assinou sua própria alta. Encontraram-no num bar próximo ao hospital, sentado num banquinho de madeira do lado de fora da porta dum desses velhos bares, que deve ter nascido junto a cidade. Os braços com as veias roxas saltadas pra fora. Sozinho. No ápice de uma amarga existência. O levaram para casa, deram-lhe banho, deram-lhe de comer e o puseram pra dormir. No outro dia, acordado logo pela manhã, e visto o céu limpo, de um azul infinito, recuperada as forças que ganhara durante o sono, se pôs a andar com os passos largos e logo estava ele lá, no mesmo bar velho, conversando poucas palavras com o mesmo velho dono, bebendo a mesma pinga envelhecida, olhando a rua do banquinho de madeira com lágrimas que lhe molhavam os olhos. Lágrimas que nunca caiam.
7 de ago. de 2004
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