9 de set. de 2005

não vi e não gostei

Não vi 2 filhos de Francisco. Não gostei do filme. Detesto a música praticada por Zezé Di Camargo & Luciano e todos os seus clones. Detesto a figura dos dois, de sua família, de sua prole. Detesto proles numerosas que têm nomes imbecis como Mirosmar ou Welson. Detesto gente que luta por sonhos tão estúpidos como fazer com que os filhos sejam cantores de sucesso. Não acredito que o tal do Brasil Profundo esteja representado por músicos medíocres de Goiás. Não acredito que a música brasileira tenha ganho qualquer tipo de originalidade, potência ou criatividade através das imitações canhestras do pior country americano mixado à mais rasteira guarânia paraguaia. Jamais poderei acreditar que cantar o tempo todo de modo esganiçado seja bonito.

Abomino profundamente esse consórcio da situação, que alia cinema carioca publicitário conspirativo tonificado com o oportunismo onipresente de Caetano Veloso & baianos associados à música sertaneja criada com grana gorda paulista glorificada em showmícios subfaturados do nosso principal partido "de esquerda", que deu nesse atual cortejo da ignorância liderado pelos primatas Lula e Severino - adulados pela freyriana culpa da classe-média educada pela Veja a ser boazinha com os "desfavorecidos". Hoje, 7 de setembro, seria interessante pedir independência a esse estranho amor pela burrice "tão Brasil" que supostamente nos definiria. Esse Brasilzinho pobre aí eu dispenso.


Não acredito que o Brasil precise de um "blockbuster popular bem-feito" para catapultar seu cinema, como muitos jornalistas complacentes têm publicado, para meu constrangimento. Não acredito na tese de que a música sertaneja explique a passagem do Brasil agrário para o Brasil urbano - ou talvez fosse melhor, do Brasil ágrafo para o Brasil agroboy. Não acredito que música sertaneja explique algo além de ser simplesmente música para que não tem respeito pelos próprios ouvidos.

Desculpem-me, mas, ao contrário dos pais da dupla referida, os meus não são surdos, analfabetos nem cretinos. Ambos de origem pobre, nunca o foram em matéria de cultura. Meu pai, um caipira paulista, ouvia música caipira em casa, divertida, radical, tosca, derramadamente simples, com a classe de quem sabe que aquilo é bom porque não é uma impostura copiada e modernizada, limpa, dedetizada no maldito Estado natal de Bush. Veio do mato, foi boiadeiro, pegava touro à unha, mas nunca quis saber de rodeio, que é esporte pra maricas. Ele também ouvia rock'n'roll, jazz, música clássica, canto gregoriano, música romântica brega, samba, o que viesse. Não tinha delírios de grandeza para os filhos - queria apenas que eles estudassem e trabalhassem. Era um homem que tinha um cérebro entre as orelhas, e as suas, ele as limpava.

Por todas essas razões, não verei e torcerei com todas as minhas forças para o fracasso desse filme que, não bastasse lidar com as emoções mais rasas e com os conceitos mais babacas, é estrelado por um ator insportavelmente mala chamado Ângelo Antônio.

Para quem não entendeu: são os preconceitos que moldam a integridade de um homem e sua visão de mundo. Não é necessário comer merda para deduzir-lhe o sabor. Ou o som.

(Ronaldo Bressane)

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