19 de jun. de 2004

Apertei o livro entre dedos subitamente frios, depois coloquei em cima da pia para estender as maos em direçao ao fogo. Eu parada na porta as duas da tarde. Voce indo embora. Eu me perdendo entao desamparada entre cinzeiros cheios e garrafas vazias. Voce indo embora. Eu indecisa entre beber um pouco mais ou lavar copos bater sofás guardar discos mastigar algum verso adoçando o inevitavel amargo despertar para depois deitar partir morrer sonhar quem sabe. Voce indo embora. Acordar na manha seguinte com gosto de corrimao de escada na boca: mais frustraçao que ressaca, desgosto generalizado que aspirina alguma cura. Tocaria, o telefone? Voce indo embora, fotograma repetido. Na montagem, intercalar. Voce indo embora voce indo embora.
(Caio F. Abreu: Saudades de Audrey Hepburn)

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